quarta-feira, 4 de maio de 2011

Medicalizando a dor da alma...????


Vivemos numa época em que há um processo de exclusão e negação dos sentimentos inerentes ao viver, uma dessas formas é a medicalização. A tristeza, a ansiedade, a raiva, a angústia, o medo, parecem ter deixado de ser considerados como fenômenos que fazem parte da condição humana, para passar a ser pensados como fatos que devem ser evitados a qualquer preço. O aumento do consumo dos antidepressivos parece falar de um novo modo, silencioso, de lidar com o sofrimento psíquico, que pode levar a uma debilidade dos laços afetivos e sociais. É importante que questionamentos sejam feitos a respeito do ato de medicar, quais suas dificuldades e limites.
Inúmeras vezes os profissionais de saúde assumem um lugar de domínio e o medicamento na maior parte do tempo se apresenta como algo onipotente, bem como um objeto perverso, aniquilando e mascarando toda e qualquer espécie de sentimento e emoção. Tomemos como exemplo a angústia, medicalizá-la é como cortar a palavra, a fala, ela pode levar a criação, ao campo das possibilidades, este é um sentimento necessário a vida humana. A capacidade das pessoas enfrentarem a realidade, como a morte, por exemplo, vai sendo devorada. Nesta lógica, o processo de luto, é considerado como doença, “dá um calmantezinho que passa, olha como sofre coitado”; vejo isto acontecer com certa frequência nos atendimentos em saúde. É cruel pensar que neste cenário que vem se desenhando não há espaço para alguns sofrimentos humanos como simples fatos da vida.
Algumas vezes, eu disse algumas, os psicofármacos são necessários e não há como negar seus efeitos, no entanto é essencial que fiquemos atentos a banalização do sofrimento. Não podemos esquecer o sujeito como alguém capaz de fazer reflexões e quando não o conseguem sozinhos, nos casos de sofrimento ético-político, exclusão social ou privação natural, os profissionais de saúde tem o papel de ir oferecendo caminhos para que o usuário possa fazer por ele e depois trabalhar nas possibilidades de crescimento que ele possa criar.
É sabido que doenças são “criadas” a todo momento pelas indústrias farmacêuticas com o aval da prática biomédica. Os médicos começaram a prescrever cada vez mais, deste modo o estado de saúde vai sendo catalogado, o que nos parece um absurdo, e é, mas é o que vem acontecendo na realidade. Assim, doenças vão sendo vendidas nos consultórios e prateleiras e a indústria da perversão medicamentosa vai crescendo. E assim a vida vai seguindo... de que jeito??? Eis a questão...
 Há-braços



5 comentários:

  1. Ju, estamos vivendo uma era de facilidades. "Pra que essa estrada longa se eu posso pegar o atalho?" Medicalizar o sofrimento é aplacar o desejo, suas possibilidades de ralização e o crescimento emocional. Com o atalho, certamente chegaremos mais rápido, mas perderemos toda a beleza da estrada...Adorei essa iniciativa, Beijão, Carol.

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  2. Ju... ótimo seu artigo...
    Parabéns pelo Blog...
    Hoje, na cultura do Fast food, onde não se espera mais nem para fazer o alimento, descarta-se toda a importância do processo, da construção... porque não seria diferente com as emoções?
    Tá com dor de cabeça? Toma uma aspirina (mas não precisa investigar se sua dor vem de algum problema ou um alimento que fez mal).

    Nos EUA, percebi numa propaganda de TV que a coisa é bem pior que aqui: o cara tá num avião e fala para a aeromoça que está com dor nas costas (e tava na cara que era por causa do banco, horas de voo e má postura) e a aeromoça vem com uma solução milagrosa: REMÉDIO pra dor... (juro que esperava que ela trouxesse uma almofadinha pra ele endireitar a coluna...). No final da propaganda o cara agradece a ótima viagem que teve graças ao remédio...

    Pra que dor? Pra que tristeza??

    Tá triste? Toma "remedinho" que passa...
    Infelizmente tá sendo assim...
    Bjo
    Iris

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  3. Oi Iris e Carol, fico muito feliz em tê-las por aqui... Hoje os medicamentos estão ditando regras e nós profissionais de saúde também somos responsáveis por isso, pois ontribuímos para que este lugar se intalasse. problemas, dificuldades de diversas ordens estão sendo consideradas como doenças. Questões que são de origem coletiva são vistas como individuais: "se eu consegui, ele também pode conseguir", sabemos que não é assim que funciona. Cada pessoa tem sua forma de estar na vida, de se relacionar, de se apresentar diante dos problemas sociais, que tem sido tomados como biológicos... Acho que isso daria um outro texto né gurias...rs.
    bj queridonas do meu coração e espero vê-las em breve

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  4. Oi Jú!!!
    Concordo plenamente com o que colocaste. Infelizmente as pessoas acham que é errado sentir tristeza, angústia, ansiedade e pra cada sentimento fazem uso de uma medicação, sem entender que os mesmos são importantes para nossa organização psíquica. Se existem, é porque têm um propósito, são necessários também. Todos passamos por dificuldades, problemas, momentos difíceis e não tem como não sentir nada! Somos humanos, não máquinas...
    É uma pena que se perca tanto aprendizado com estes sentimentos também...
    Beijos e parabéns pelo Blog!

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  5. Ótimo Ed, é isso mesmo... precisamos da angústia, da ansiedade e também os delírios e alucinações são uma de se organizar...
    bj

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